A demanda por minério de ferro e por metais básicos, como cobre e níquel, deve continuar forte nos próximos anos e estimular os investimentos das mineradoras em inovação, sustentabilidade e transição energética.
Só a Vale prevê R$ 70 bilhões de aportes entre 2025 e 2030. A maior parte dos recursos será destinado ao complexo de Carajás, no Pará, que abriga a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo.A empresa estima que a produção de ferro na região atinja 200 milhões de toneladas por ano ao fim desse período.
Em paralelo com o Projeto Carajás, onde também produz cobre, níquel e manganês, a Vale vai investir neste ano US$ 5,9 bilhões em todas as suas operações. Desse total,entre US$ 3,5 bilhões e US$ 4 bilhões serão direcionados especificamente para atividades com o minério de ferro. O objetivo é produzir de 325 milhões a 335 milhões de toneladas do mineral em 2025.
O principal mercado da Vale é a China, com 49% das vendas (187 milhões de toneladas). Isso representa 61% da receita da mineradora. “A tendência é que haja neste ano um consumo forte de aço e uma boa demanda pelo ferro, inclusive com queda do nível de estoque nos portos”, afirma Rogério Nogueira, vice-presidente executivo comercial e de novos negócios da empresa.
As companhias estrangeiras também apostam no potencial brasileiro. A inglesa Anglo American anunciou investimentos de R$ 5 bilhões em obras da planta de filtragem de rejeitos da barragem do complexo Minas-Rio, em Conceição do Mato Dentro (MG), que produziu 25 milhões de toneladas de minério de ferro em 2024. Já a também inglesa Brazil Iron está focando seus investimentos em tecnologias sem emissão de carbono,capazes de obter um minério com maior teor de pureza na produção de “pellet feed”,pelotas e ferro verde (ferro briquetado a quente), na região de Piatã (BA).
A produção de “pellet feed” é uma tendência das mineradoras, em sintonia com as exigências ambientais, por usar o hidrogênio no processo, o que gera um aço sem emissões de carbono. “Já investimos mais de R$ 1,5 bilhão no Brasil em estudos geológicos e em pesquisa e desenvolvimento metalúrgico para converter as matérias-primas em produtos de valor agregado. A Brazil Iron vai investir mais de US$ 5 bilhões na instalação de uma mina, na construção de uma ferrovia de 120 km, em uma planta de pelotização e numa instalação de ferro verde” afirma Emerson de Souza, vice-presidente de relações institucionais da Brazil Iron.
Empresa britânica de capital fechado, a Brazil Iron está buscando adquirir a Bahia Mineração do ERG – também conhecida como Bamin – um projeto integrado de mineração e logística no Nordeste do Brasil que inclui uma mina de minério de ferro, um futuro porto de águas profundas e uma ligação ferroviária.
Segunda maior exportadora de minério de ferro do Brasil, a CSN Mineração concentra a sua produção de minério de ferro no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, com destaque para a mina Casa de Pedra, em Congonhas. Os investimentos entre 2025 e 2030 totalizam R$ 13,2 bilhões, dos quais R$ 8 bilhões para construção de uma nova unidade de beneficiamento, chamada Itabirito P15, que produzirá pellet feed.Atualmente, a planta de Casa de Pedra produz cerca de 32 milhões de toneladas por ano de minério de ferro, sem fabricação de pallet feed.
Com atuação na produção de aços planos, o grupo Usiminas conta com uma mina própria no município de Itatiaiuçu (MG), controlada pela Mineração Usiminas. Em 2024,as vendas de minério de ferro ficaram em 8,5 milhões de toneladas, uma queda de 6,5% na comparação anual. A justificativa foi uma parada operacional devido à instalação de tratamento de minério na mina Leste. A operação foi retomada em novembro. Os investimentos de 2024 somaram R$ 337 milhões. Os aportes para 2025 não foram divulgados.
O setor, contudo, não se resume aos grupos tradicionais. Criada em 2016, a Mineração Morro do Ipê, fruto da sociedade entre o grupo suíço Trafigura e o emiradense Mubadala, investiu R$ 1,3 bilhão entre 2021 e 2023 na mina de Tico-Tico, em Brumadinho (MG), ampliando a produção de minério de ferro de 3,5 milhões de toneladas/ano para 9 milhões de toneladas/ano. Para este ano, o foco está na descaracterização (remoção de rejeitos armazenados e novos sistema de segurança) de suas três barragens no município. O investimento previsto é de R$ 200 milhões.